Bem-aventurados os que sonham. Chama-os Deus poetas.*

terça-feira, 11 de julho de 2017

Homenagem à Dorothy Jansson Moretti


Poetisa e professora, assídua participante da
 Trova-legenda.
Amiga carinhosa que partiu em maio de 2017,
deixando muitas saudades.


Tão rápida corre a vida,
mas tendo-a presa a um cordel,
a gente a quer, submetida,
como pipa de papel.

Baixa o nível, cada dia,
e a cada marca atingida,
a água, em lenta agonia,
leva também... nossa vida.

Ao fascínio do dinheiro
tão nefanda é a tentação,
que até o homem bom, e inteiro,
titubeia ao dizer...”Não!”

Deslumbrada a cerejeira,
lenta, despe-se vaidosa,
espelhando-se, faceira,
no tapete cor de rosa.

A alegria da criança
é cenário colorido,
onde flutua a esperança
que empresta à vida o sentido.

Há na aliança desses braços
a força inata e louçã
que nos prediz entrelaços
de um lindo e claro amanhã!

Rompe os elos o Direito,
e unidas, enfim, as mãos,
arrasa-se o preconceito:
negro e branco são irmãos!

Velado à fumaça horrível,
agoniza um céu cinéreo
onde a ganância, insensível,
já pôs também seu império.

Há em tua carta carinho
e tanta ternura aliada,
que ao ler cada pedacinho,
eu já me sinto abraçada!

Leva o barco as nossa mágoas,
sulcando as ondas, além,
mas do outro lado das águas,
leva esperanças a alguém.

A cada golpe que malha
a rude pedra, o escultor
bendiz o cinzel que entalha
a estátua do seu amor.

Nunca mais o trem passou,
mas ouço-lhe ainda o apito...
O silêncio eternizou
a saudade do seu grito.

No sobe e desce da escada,
tenho a estranha sensação
que a vida é uma escorregada
no tobogã da ilusão.

Fotos, lembranças guardadas
no escrínio do coração,
nossas vidas perpetuadas
em pedaços de cartão.

Vendo as araras, serenas,
sobrevoando a floresta,
triste, eu pressinto que apenas
tão pouca vida lhes resta.

A Terra é azul!!!” Lá da altura
não se percebe a incoerência,
camuflada a cor escura
das guerras, droga e violência.

Passa o tempo, sem piedade,
mas o casal sonhador
celebra, em meio à saudade,
a eternidade do amor.

Beija a lua e foge o vento.
Receosa ela fita o mar...
e ele estilhaça, ciumento,
em mil cacos o luar.

Mostrando-me ao longe o porto,
a luz de um farol me anima,
e o meu poema... quase morto,
navega em busca da rima.

Do que agitou nossas almas
restam sonhos calcinados,
cingindo as crateras calmas
de dois vulcões apagados.

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